Governo do Iémen declara estado de emergência após ataques da Arábia Saudita

O chefe do Conselho Presidencial do Iémen, Rashad al-Alimi, declarou hoje o estado de emergência no país durante três meses e cancelou o pacto de defesa com os Emirados Árabes Unidos.

Lusa /
Reuters

"O acordo de defesa mútua com os Emirados Árabes Unidos está cancelado", informou a agência de notícias oficial iemenita Saba, que citou ainda um decreto que estipula um estado de emergência de 90 dias.

O Governo reconhecido internacionalmente e apoiado pela Arábia Saudita impôs ainda uma proibição de 72 horas a todas as passagens fronteiriças em território sob o seu controlo, bem como a entrada em aeroportos e portos marítimos, exceto os autorizados pela coligação liderada por Riade.

Al-Alimi justificou a decisão com a "necessidade de confrontar o golpe de Estado que tem vindo a ocorrer desde 2014", referindo-se aos rebeldes xiitas Huthis, apoiados pelo Irão.

Um conflito eclodiu em 2014 entre o Governo e os seus aliados, incluindo o STC, por um lado, e os Huthis, por outro, resultando em centenas de milhares de mortes, na fragmentação do país e numa das piores crises humanitárias do mundo.

Um acordo de cessar-fogo alcançado em 2022 tem sido amplamente respeitado.

Uma coligação liderada pela Arábia Saudita, rival do Irão, foi formada em 2015 para apoiar o Governo iemenita reconhecido internacionalmente.

Al-Alimi mencionou ainda "conflitos internos instigados por elementos militares rebeldes que receberam ordens dos Emirados Árabes Unidos para lançar uma ofensiva militar contra as províncias orientais com o objetivo de dividir a República do Iémen".

A medida segue-se a ataques aéreos da coligação contra um porto no Iémen, que visaram veículos blindados e armas para a força separatista conhecida como Conselho de Transição do Sul (CTS, na sigla em inglês).

O CTS é apoiado pelos Emirados Árabes Unidos, que ainda não se pronunciaram sobre o ataque.

"A força aérea da coligação realizou esta manhã uma operação militar limitada, visando as armas e os veículos de combate que tinham sido descarregados dos dois navios no porto de al-Mukalla", informou a agência de notícias oficial saudita SPA.

A notícia, que cita um comunicado militar, justifica a ação com "os riscos e à escalada representados por estas armas, que ameaçam a segurança e a estabilidade".

A nota diz que o armamento chegou ao Iémen em navios vindos de Fujairah, cidade portuária na costa leste dos Emirados Árabes Unidos.

Os Emirados Árabes Unidos não fizeram até ao momento qualquer comentário sobre o ataque.

Não ficou claro se houve vítimas no ataque. Os militares sauditas disseram que realizaram o ataque durante a noite para garantir que "nenhum dano colateral ocorria".

O porta-voz da coligação afirmou que as entregas constituíram uma "clara violação" dos esforços de desescalada e uma infração à Resolução 2216 do Conselho de Segurança da ONU.

Turki al-Maliki disse que os carregamentos têm como objetivo "alimentar o conflito" nas províncias orientais de Hadramawt e Al Mahra, no Iémen, onde os separatistas apoiados pelos Emirados Árabes Unidos detêm o poder.

A coligação avisou no sábado que iria retaliar contra qualquer ação militar dos separatistas no Iémen, pedindo-lhes que se retirassem "de forma pacífica" das províncias recentemente conquistadas.

O STC tomou grandes extensões de território nas últimas semanas, particularmente em Hadramawt, sem encontrar resistência significativa.

Os separatistas pretendem restabelecer um Estado no sul do Iémen, onde uma república democrática e popular foi independente entre 1967 e 1990.

Neste contexto tenso, o Governo iemenita reconhecido internacionalmente pediu na sexta-feira apoio da coligação militar liderada pela Arábia Saudita.

O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Marco Rubio, apelou à moderação na sexta-feira, evitando tomar partido entre a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, dois parceiros-chave de Washington.

As novas tensões podem destabilizar ainda mais o Iémen, o país mais pobre da Península Arábica.

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